O padrão de família de até 20 anos atrás era aquele tradicional com pai, mãe, filhos e talvez aquela tia chata ou a avó sem papas na língua. Mas esse modelo está ficando cada dia mais raro, e, infelizmente, não é por causa da tia ou da avó. O divórcio cresce vertiginosamente e as famílias de “mãe solteira” estão se tornando o novo “normal”. Essas famílias incompletas são quase tão numerosas quanto as que contam com pai e mãe.
Essa análise toda foi só para relatar que eu também sofri ao nascer em uma família disfuncional. Infelizmente quando minha mãe estava grávida de mim meu pai saiu de casa. Talvez hoje, com a tecnologia e a normalização desses casos a abordagem seja diferente, mas eu, nascido em 1985, particularmente sofri muito com a ausência da figura paterna e por mais que minha mãe se esforçasse para suprir as nossas necessidades algo estava faltando.
Eu via meu pai com certa frequência, mas o fato dele ter outra família eu me sentia rejeitado. Na minha cabeça infantil eu pensava que meu pai tinha escolhido seus outros filhos e me deixado de lado. Como um lixo que é deixado no canto até ser descartado eu entendia que a vida era assim mesmo, afinal eu não valia nada. Meu pai que deveria me amar e me proteger não me queria, então tudo certo…cada um tem seu valor. Pode ser dramático feito novela mexicana, mas eu encarava a vida com esse perspectiva. Era difícil nos eventos da escola ou da igreja não ter um pai para homenagear, ou não ter alguém para dar o presente feito na aula de artes no segundo domingo de agosto. Eu clamava pela aprovação do meu pai, mas era desprezado dia após dia.
Isso me trouxe um prejuízo gigante e me traria problemas na vida adulta. Não foram poucas as vezes que eu tentei me aproximar do meu pai, mas não adiantava: eu me sentia desprezado e rejeitado sempre. Isso me fez desenvolver uma necessidade de aprovação gigante. Eu mesmo me desprezava e me rejeitava. Pensava que eu era um nada e alguém indigno de receber amor, compreensão ou mesmo respeito. Infelizmente as pessoas percebem instintivamente isso e nos tornamos alvos fáceis. Eu me tornei um homem titubeante, inseguro, medroso e que sempre se lascava só para agradar as pessoas, independente de quem fosse, o presidente da república ou o pedinte na rua.
Meus relacionamentos se tornaram um inferno e eu era manipulado pela vontade dos outros, pois era incapaz de dizer um simples “NÃO”. Inseguro eu sempre queria me sentir amado e parte das coisas, pois tinha a sensação que ninguém dava bola pra mim. Pra me incluir eu me tornava um bobinho, que fazia piadas sem graça e que sempre fazia tudo que os outros me pediam. Eu era roubado na escola, era humilhado pelas pessoas publicamente, era ofendido e agredido frequentemente pois eu não sabia me defender. Eu não decidia as coisas por mim mesmo, e sempre queria saber a opinião das pessoas sobre tudo. Era incapaz de escolher alguma comida no cardápio sem perguntar se podia. Tinha medo de enfrentar a vida, pois se desse errado o que pensariam de mim? Não me posicionava sobre nada pois não queria contrariar ninguém. Por vezes me tornava violento apenas para me auto afirmar contra alguém na tentativa de não ser um escravo da opinião alheia. Outra situação que já relatei é que não conseguia me aproximar de Deus por me sentir rejeitado. Sempre tinha algo que eu tinha feito errado que me culpava ou acusava. Deus nos é retratado como um pai de amor, mas a minha figura de pai era totalmente negativa, e portanto eu não conseguia ver Deus como alguém que me amava e desejava estar perto de mim, pois meu próprio pai não me quis…
Isso foi se repetindo dia após dia e eu vivia uma vida miserável, até que um dia eu percebi que essa necessidade de aprovação era um profundo bloqueio. Olhando de fora é obvio, mas eu simplesmente não percebia tudo isso. Demorou até eu cair na real de que isso era uma AUTOSSABOTAGEM. Eu me isolava das pessoas inconscientemente e eu mesmo causava os abusos que sofria por querer sempre ser aprovado por todos. Nunca dizer NÃO é algo nocivo ao extremo. Eu engolia muito sapo e era humilhado constantemente por pessoas que se aproveitavam da minha nobreza.
Eu conto a minha história na intenção de que pessoas que sofrem com esse mesmo mal possam entender que não precisam da aprovação de ninguém. Quem precisava te aprovar já te aprovou quando te criou! Você que toma as suas decisões! Decida ser aprovado! As nossas atitudes não devem ser artificiais buscando a atenção de qualquer pessoa. Aja naturalmente pois assim você agradará muito mais que sendo um bobinho como eu era. Não importa quem te rejeitou, Deus te aprova e quando te criou disse que você era bom:
Um provérbio judaico diz o seguinte: “Se eu sou eu porque você é você, então eu não sou eu.” Nós não devemos mudar quem nós somos por ninguém. A influência de qualquer pessoa sobre nós deve ter como limite a nossa vontade. Entenda que não digo que não devamos mudar comportamentos e atitudes errados e nocivos, mas sim que não devemos buscar nos outros o sim ou o não para fazermos qualquer coisa. Entenda que Deus quando te fez já te aprovou. Ele quis você exatamente do jeito que é, com suas características e suas vontades. Se Deus te aprovou, ninguém mais pode te reprovar! Não dependa da aprovação de ninguém. Você tem toda a capacidade de ser você mesmo e não precisa que ninguém te aprove!