AS FUGAS DO ESTADO EMOCIONAL

Esse testemunho é particular, e não espero que seja a verdade absoluta.

Durante muitos anos da minha vida eu sofri com uma profunda tristeza que eu não sabia explicar. Aparentemente não tinha um motivo para eu estar tão para baixo. Com o tempo eu ouvi falar de depressão e cheguei a conclusão que era isso que eu tinha. Mas como a minha família era um pouco disfuncional, eu não tinha com quem contar para explicar que estava me sentindo triste sem motivo aparente. Todos iriam dizer que era frescura e eu certamente ouviria aquelas frases do tipo “para com isso moleque, vai arranjar o que fazer”. E essa tristeza foi se agravando. Me lembro que na infância eu tinha saudades de coisas do passado. Na infância. Isso é no mínimo incomum. Eu sentia vontade de estar em momentos que tinha vivido alguns anos antes.

O tempo passou e na adolescência um novo comportamento apareceu. Agora eu estava sempre com medo do futuro, achando que estava fazendo tudo errado, pensando que eu estava sendo julgado e condenado. Passei a ter dificuldades para dormir, e ficava nervoso sempre que tinha que fazer algo diferente. Era a ansiedade. Junto com a ansiedade eu desenvolvi uma gigante necessidade de aprovação das pessoas. Eu fazia tudo que os outros queriam apenas para não os “decepcionar”. Eu me via como um ser inferior e patético.

Alguns estudiosos simplificam: depressão é excesso de passado e ansiedade excesso de futuro. Realmente faz muito sentido.

Eu usei esses dois exemplos porque eu os vivi na pele, mas existem diversos outros tipos de comportamentos nocivos que são desencadeados por nosso cérebro em busca de alívio para uma situação de tensão. Essas situações de tensão são bloqueios que nosso cérebro cria para evitar reviver traumas. É uma tentativa do nosso cérebro de fugir de uma situação dolorida, ou resumindo, é a fuga de um estado emocional.

Porque eu tinha depressão? Porque queria retornar ao passado? Eu demorei a descobrir, mas era porque eu, antes de nascer fui abandonado por meu pai. Nos meus primeiros anos de vida eu então criei uma dependência muito grande do restante da minha família. Mãe, irmãos, avôs. Mas logo coisas aconteceram eu eu passei a ficar mais sozinho que acompanhado. Meus irmãos casaram, meu avô faleceu. E eu lá pelos 7 ou 8 anos tinha boas lembranças daqueles primeiros anos de vida. Eu queria voltar para lá.

A ansiedade se desenvolveu na adolescência pois eu tinha um sentimento gigantesco de rejeição, pois meu pai havia me abandonado. Eu me cobrava muito pois queria agradar ele, e então sentia um constante medo, uma constante condenação, um constante sentimento de incapacidade e inferioridade.

Todos esses comportamentos se desenvolveram em uma tentativa de aliviar a dor que eu sentia por esses traumas. Nosso cérebro sempre quer nos poupar de reviver experiências negativas e assim cria esses comportamentos como uma forma de defesa.

Esse texto tem apenas a ideia de ilustrar alguns pontos. Nos artigos iremos abordar esses comportamentos individualmente e como descobrir e desbloquear.

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